Tendências e destaques do SPFW25
•Postado em 16 novembro 2020

No último dia 8 deste mês, o São Paulo Fashion Week encerrou, após 5 dias, sua temporada de desfiles e ações em comemoração aos seus 25 anos. Um evento inteiramente digital e com algumas ações visuais espalhadas por pontos turísticos na cidade de São Paulo.
A semana é considerada uma das maiores da América Latina! Nesta edição, que até então seria no estilo festival - com frentes múltiplas de apresentação distribuídas por toda SP -, mas com a pandemia do coronavírus, precisou ser adaptada, gerando um desafio criativo para as marcas brasileiras. O Diretor Criativo do SPFW, Paulo Borges afirma para uol:
“O momento exige criatividade. Ver o mundo com outros olhos é essencial para enxergar outras realidades e desbravar novos territórios. Em um mundo cada vez mais acelerado e volátil, as escolhas que fazemos e as direções que seguimos terão enormes impactos em nossas vidas e no mundo. Criamos uma semana dedicada às diversas manifestações culturais e que sempre encontraram no evento um espaço receptivo de conexão e visibilidade".
Em um ano em que todos precisaram se adaptar, a última edição do evento se manteve fiel ao seu propósito de reverenciar a criatividade plural e celebrar o espaço urbano como maior canal de expressão para os novos caminhos para a moda nacional.
Como já abordamos neste post sobre tendências ,as Semanas de Moda nos ajudam a identificar e visualizar o entendimento e a interpretação criativa dos designers para os cenários da atualidade, por isso a mudança de uma temporada para outra.
Com o SPFW 25 não poderíamos deixar de dar destaque às tendências, tanto comportamentais como criativas que se revelam na moda brasileira.
Principais mudanças da edição digital
Foram 36 marcas apresentadas, 500 conteúdos programados nos principais canais digitais - Site, Youtube e Instagram - , além de projeções mapeadas nas cinco principais regiões de São Paulo.
Um ponto relevante foi a democratização. Com as transmissões online, não houveram atrasos nas apresentações, que contaram com interações do público e papo com os designers explicando, uma vez só e para todos, suas inspirações, reflexões e os estudos desenvolvidos para construir a temporada.
Muito do que ficou na cabeça da semana de desfiles, foi o esforço em realizar um evento de alta escala e importância em tempos difíceis, seguindo uma boa etiqueta sanitária, sem deixar de celebrar seus 25 anos.
Com colaboração do artista visual Alexis Anastasiou. O artista trabalhou em projeções e luzes em prédios da capital paulista, no Farol Santander, no Novo Vale do Anhangabaú e na fachada do edifício tombado pelo Condephaat - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico -.

(Projeções de curadoria de imagens SPFW25, Farol Santander. Foto: Twitter SPFW)
Além disso, uma curadoria de fotos e vídeos construídos ao longo dos 25 anos, foi preparada para uma exposição digital, em parceria do fotógrafo Felipe Morozini - que preparou colagens dos arquivos -, e Marcelo Soubhia, fundador da agência Fotosite, responsável pelo acervo.

(Colagens de Felipe Morozini com fotos da agência Fotosite. Foto: ffw.uol.com.br)
Se esses pontos já tornaram a temporada memorável, a parceria com o coletivo Pretos na Moda, tornou a edição histórica.
- Tratado de inclusão
O destaque a nível internacional fica por conta do compromisso assumido através do Tratado Moral entre Pretos na Moda (PNM) , SPFW e Parceiros. Com ele, a semana fashion assume a responsabilidade de trabalhar com pelo menos 50% de modelos negros, afrodescentes ou indígenas.
O tratado também prevê uma renovação e adequação a cada temporada, em vista que o mercado também se renova constantemente. A revista Elle, ainda revela:
“Além disso, o documento assinado entre a SPFW e o PNM estipulou ainda valores mínimos de cachês para apresentações, prazos de pagamentos e diretrizes comportamentais dentro do trabalho”.
É importante lembrar que em o SPFW já foi alvo de ações judiciais no passado devido à ausência de modelos negros em suas passarelas. Em 2009, um acordo entre o evento e o Ministério Público, determinou um sistema de cotas nos desfiles: pelo menos 20% do total de profissionais deveriam ser negros.
Nos anos seguintes, a porcentagem se manteve acima do limite combinado com algumas variações de uma temporada para a outra.
O que entendemos com isso? Que a moda brasileira está trilhando cada vez mais novos caminhos voltados para mais inclusão, diversidade e valorização da criatividade nacional.
Marcas estreantes
A temporada de desfiles também trouxe 6 marcas estreantes, entre elas: ALG, etiqueta “irmã” da À La Garçonne do renomado designer Alexandre Herchovitch e Fabio Souza; Misci, de Airon Martin; Freihet, de Marcio Mota; Martins, de Tom Martins; Irrita, de Rita Comparato e Renata Buzzo.
Conheça brevemente sobre cada uma das marcas.
Com DNA mais jovem, com pegada street e descomplicado, ALG apresentou peças sem distinção de gênero ou sazonalidade, bem como os dias atuais pedem. A label chamou atenção com suas prints de correntes, além de moletons e itens esportivos que são um espelho das ruas.


(imagens: ffw.uol)
Natural do Mato Grosso DE Sinop, que faz parte do território amazônico, Airon Martin, fundou em 2018 seu estúdio multidisciplinar de design, após ter tentado estudar medicina. Em agosto do mesmo ano, o designer lançou sua primeira coleção de vestuário e mobiliário.
A sustentabilidade é a principal ferramenta de Airon para desenvolver seus produtos, não apenas no uso de materiais como na otimização de seu uso, ou seja, sem desperdiçar.
Sua coleção para o SPFW de um lado gerou reflexões sobre a desconstrução do conceito de masculino e feminino. De outro, questões sobre as mudanças climáticas.

(imagem: ffw.uol)
Marcio Mota é brasiliense e fundou da Freiheit - em alemão significa liberdade -, em 2019 após retomar seus estudos de moda na escola de moda italiana Polimoda de Firenze.
A grife trabalha com alfaiataria com detalhes street , cheia de personalidade.
Para sua estreia no São Paulo Fashion Week, a marca apresentou com a coleção “Flagwear”, com grafismos que remetem a bandeiras que simbolizam liberdade.
A label, que também é adepta do slow fashion, ganhou styling de Alexandre Herchcovitch em suas peças super atuais e que podem ser usadas independente das estações.
(imagem: ffw.uol)
Após participar de várias edições do SPFW com a extinta Neon (fundada em 2003 com Dudu Bertholini, que encerrou as atividades em 2013), a designer Rita Comparato retornar ao evento com sua própria marca, a Irrita.
Lançada em 2018 a marca chama atenção por seu trabalho com a modelagem das peças, com um corte impecável, que reflete no caimento perfeito em vários tipos de corpos.
Outro destaque fica por conta da estampa desenvolvida em parceria com o artista gráfico Andrés Sandoval. A print foi inspirada em desenhos da viagem da estilista para o Panamá junto com o artista plástico Rafael Silvares.

(Imagem: vogue.globo)
A etiqueta Martins leva o sobrenome de Tom, paulistano fundador da marca em 2016, que também já fez parte da Casa de Criadores - que já revelou inúmeros estilistas nacionais -. O principal desejo do designer está em criar peças que servissem para todos, com modelagens amplas e democráticas.
As peças que incluem desde camisetas, túnicas e jeans, são, na grande maioria, sem gênero definido e tamanhos divididos sem números padrão, apenas em 1,2 e 3.
Para a semana de moda em SP, a label apresenta uma performance com muita dança e movimento, com looks vibrantes, usados de diferentes formas.


(imagens: ffw.uol)
A estilista Renata Buzzo também é integrante da Casa de Criadores e participou do Green Talents, evento de sustentabilidade da Vogue Itália.
A label, que leva o nome da designer é vegana, ou seja, não utiliza nenhuma matéria-prima de origem animal. Além de trabalhar com tecidos como, musselines, cetins, crepes e tules, tem uma preocupação com o meio ambiente, logo, reutiliza os resíduos das peças, em bordados, por exemplo.
A inspiração da coleção veio de um poema próprio, representado através de uma cartela de cores que conversa com a melancolia e algumas questões femininas.


(imagens: nossa.uol)
O que compreendemos com o trabalho apresentado pelas marcas estreantes? Que mesmo com a necessidade de adaptação para os canais digitais, existem novos talentos que estão conquistando seu espaço devido a sua pluralidade criativa.
Formas, cores e materiais
Agora que já apresentamos os principais destaques do São Paulo Fashion Week, vamos abordar resumidamente mais alguns highlights para o verão 2021, que você com certeza irá ver muito por aí.
- Ampliação de formas e moda sem gênero definido
Grande parte das coleções foram pensadas tendo em vista o conforto, com uma modelagem mais solta, como é o caso da marca Hundred, que se inspirou em Copacabana, RJ.
Outra marca que também trouxe essa folga, foi a estreante Freiheit, como já falamos por aqui, e Isaac Silva. Este último já trabalha mais com uma moda abrangente - a mesma peça pode ser usada por mulheres, homens e plus size. A ALG, Rita Comparato e Led também parte de uma modelagem com mais amplidão.
Já João Pimenta, cobriu o rosto dos modelos completamente para que ninguém soubesse se eram homens ou mulheres. Segundo o próprio artista, o intuito é trazer a sensação de claustrofobia causada pelo isolamento.
- Reuso de materiais
O momento atual também fez algumas marcas se voltarem para suas coleções antigas e desenvolverem uma nova proposta. Foi o caso da Amapô, que trabalhou o denim em calças, jaquetas e saias; assim como Gloria Coelho, que trouxe referências antigas.

(Amapô. Foto: FFW)
Ponto Firme, de Gustavo Silvestre, trabalha com crochê com egressos do sistema carcerário, em parceria com a marca NK, apresentou vestidos leves, reconstruídos. Já Amir Slama, também usou e abusou de materiais que tinha em seu acervo, como acrílicos, bijuterias e acessórios de roupas de banho.
Outro grande destaque foi do designer Victor Hugo Matos, que trouxe um trabalho artesanal único com crochê, miçangas, pérolas e contas. E o Apartamento 03, de Luiz Cláudio, que se inspirou no livro “Ensaio sobre a Cegueira”, de Saramago. Parte da coleção já estava pronta na edição física. Roupas leves, fluídas e que oscilam entre inverno e verão.
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(Apartamento 03. foto: vogue.globo)
- Moda como forma de expressão política
O fechamento do SPFW 25 trouxe uma homenagem do estilista Ronaldo Fraga, para a Zuzu Angel. A designer usou a moda como plataforma de expressão ainda nos anos 70, durante a ditadura militar, o que custou sua vida, em um acidente automobilístico.
A homenagem contou com uma reedição de Ronaldo para a coleção apresentada por Zuzu no início dos anos 2000, que na época foi muito aclamada. As prints, de tanques de guerra e anjos, foram usadas por Fraga em vestidos longos, detalhados por rendeiras da região do Cariri na Paraíba e de Barra Longa.
Com poesia, o estilista fala sobre as similaridades do momento presente com o período em que Zuzu atuou. Um final emocionante, que mostra que a moda, além de uma ser uma representação da atualidade, também tem é capaz de ser palco para a expressão artística e política.
Moda é um reflexo da atualidade, esteja atento e construa seu estilo
Então, o que achou do tema? Já está ansioso para a próxima estação com as dicas que temos aqui?
Esperamos que este conteúdo inspire você a se manter curioso sobre moda nacional e seus profissionais super criativos. Busque novas fontes de pesquisa e procure entender o contexto de cada coleção.
E lembre-se! Muito além das tendências, está o estilo, buscando uma moda mais consciente e sustentável. Pensando nisso, procure conhecer opções para compor seu estilo em brechós e bazares. E conte com a EMIGÊ.it .
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